Inaugurado há exato um mês o novo Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) Doutor Leony Palma de Carvalho, onde também funcionará o novo Pronto-Socorro da Capital, ainda não recebeu nenhum paciente. A construção, parcialmente concluída, está impedida de funcionar por decisão judicial e só poderá iniciar os atendimentos após cumprimento de algumas medidas. Juíza Célia Vidotti inspecionou o prédio na semana passada e Prefeitura de Cuiabá disse que o início dos atendimentos depende somente da justiça. Intenção do executivo municipal era colocar 100% do novo prédio em operação no dia 8 de abril de 2019.
Dentre as solicitações feitas pela juíza na decisão do dia 19 de dezembro estavam a apresentação do Plano Diretor do Modelo de Gestão a ser implantado, lotacionograma e, especialmente, cronograma para transferência dos serviços de saúde do atual para o novo prédio do Pronto-Socorro que, até a data, não haviam sido apresentados aos órgãos de controle. A decisão judicial é fruto de uma ação civil pública requerida pelo Ministério Público Estadual (MP), com base na proibição do Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE) que impediu a transferência da gestão do novo PS à Empresa Cuiabana de Saúde Pública, que já havia sido escolhida pelo Conselho Municipal de Saúde. Tribunal de Justiça informou que não há como precisar prazos para nova decisão da juíza.
Mesmo após a autorização, os atendimentos devem acontecer de forma gradativa. No primeiro momento estará disponível à população a Ala Ambulatorial que conta com recepção, sala de aplicação de injetáveis, sala de curativos e consultórios para cardiologia, ginecologia/obstetrícia, endocrinologia, gastroenterologia, dermatologia, psiquiatria, clínica geral, além de pequenas cirurgias.
Pronto-Socorro de Cuiabá é responsável por 90% de atendimentos de alta complexidade em Mato Grosso, o que gera superlotação com pessoas sendo atendidas até no corredor da unidade. Existe um déficit de 450 leitos atualmente e, conforme o executivo municipal, nova unidade reduzirá para 135 faltantes. Novo prédio terá 178 leitos adultos, 20 de tratamento para queimados, 60 Unidades de Terapia Intensiva (UTI), 38 leitos para emergência, seis salas de cirurgia e 13 para recuperação pós-cirurgia. Estão previstas 1.243 vagas de emprego, que inicialmente serão preenchidas com remanejamento de servidores, conforme informou o prefeito Emanuel Pinheiro em coletiva de imprensa realizada antes da inauguração.
Situação precária
Auxiliar de serviços gerais, Jaqueline Auxiliadora dos Santos, 41, está acompanhando a mãe internada há 22 dias no atual prédio do ProntoSocorro cuiabano. Ela conta que o atendimento da equipe médica e de enfermagem é muito bom, mas as condições em que a mãe, diabética e com alta infecção em um dos pés, está é extremamente precária. A senhora foi submetida a exames e, uma cirurgia simples e recuperação, precisou ser feita no corredor.
“Minha mãe tem 63 anos, está com uma infecção e terá que amputar um dos pés. Na última semana ela fez uma cirurgia e ficou se recuperando no corredor quente, sem estrutura, com outras pessoas que estão com os mais variados tipos de doença. Disseram que não tinha quarto. Na semana passada, após muito pedir eles transferiram ela pra uma enfermaria’, contou.
Outra reclamação feita por Jaqueline é o mau cheiro da unidade. Nos corredores ou nos quartos a limpeza é ruim. Outro fato narrado pela acompanhante foi o alagamento ocorrido no Pronto Socorro durante a forte chuva que caiu na semana anterior. “É muita sujeira. O cheiro é podre, chega a dar nojo estar lá dentro. Observei que a limpeza não é bem feita ou o prédio que é tão velho que não fica com cheiro melhor. É muito misturado e muito ruim aqui. Acredito que se o novo prédio já estivesse funcionando, no mínimo mais higiênico seria. Prefeitura tem que tomar providências logo em relação a isso, a população merece um local melhor pra cuidar da saúde”, desabafou.
Um jovem que preferiu não se identificar conversou com a reportagem enquanto aguardava a liberação da entrada para visitar o irmão internado há 15 dias no Pronto Socorro de Cuiabá. Ele carregava uma cadeira de plástico, roupas e um ventilador. “Meu irmão está no corredor. Sujeira, descaso e vergonha é pouco para definir o que é esse prédio aqui. Impressão que tenho é que as pessoas ficam mais doentes ainda lá dentro. Hoje meu irmão já está na maca, mas o calor é insuportável e tive que trazer um ventilador de casa pra ele, também trouxe essa cadeira senão, quem dorme com ele, tem que sentar no chão. Está totalmente lotado e sem estrutura. Enquanto isso o novo prédio está lá, vazio, foi inaugurado, gastaram milhões do nosso dinheiro e não podemos utilizar”, disparou.
Etapas de atendimentos
Após início do funcionamento do ambulatório, na segunda etapa começam a funcionar duas enfermarias masculinas com 60 leitos e um isolamento, uma enfermaria feminina com 30 leitos e um isolamento, sala de raios-X e sala de ultrassonografia. Na 3ª etapa entrará em operação a ala de urgência e emergência, duas alas de terapia intensiva (UTIs) com 20 leitos e duas salas de cirurgia. Na quarta e última fase de transferência será a vez do início dos atendimentos de mais três unidades de terapia intensiva (UTIs) com 40 leitos ao todo e mais duas salas de cirurgia. Após início desses atendimentos, a população vai contar com uma estrutura mais moderna que, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), deve gerar economia de 10% nos custos.
Atual PS de Cuiabá custa R$ 14,9 milhões, mensalmente. Para gerir o novo prédio o município deve gastar R$ 13,4 milhões, economizando mais de R$ 1 milhão dos cofres públicos. “Vamos gastar o dinheiro corretamente e administrar melhor os recursos. Temos a previsão de economia de 10%, mas se isso acarretar em prejuízos aos atendimentos não vamos poupar”, afirmou o prefeito.
Projeto é transformar atual prédio em Hospital Materno Infantil, leito de retaguarda da nova unidade e também uma ala para atendimento de pessoas idosas.
FONTE: FOLHAMAX
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