Trabalhadores apontam falta de infraestrutura
A notícia de que o Hospital São Benedito, da rede muncipal de saúde de Cuiabá, passará a ser uma unidade 100% para atendimento de casos de covid-19 e, desta forma, toda demanda de ortopedia, cardiologia e neurologia atendida lá será transferida para outro hospital, causa preocupação nas equipes profissionais. Trabalhadores do São Benedito afirmam que a unidade não tem condições físicas e estruturais para o cenário da covid. Citam como principais problemas um necrotérico com capacidade de armazenamento de apenas 5 corpos e a falta de regularidade no fornecimento de equipamentos e insumos para as UTIs que, conforme eles, sempre precisou de improviso.
Depois do anúncio feito pelo prefeito Emanuel Pinheiro na terça-feira (9), diversos profissionais procuraram o Sindicato dos Profissionais de Enfermagem do Estado de Mato Grosso (Sinpen-MT) para expor a situação. Um dos trabalhadores que compõem a equipe na unidade questiona o fato de o hospital receber uma demanda crescente de casos que acabam em mortes. Ele relatou que há algumas semanas a unidade teve 9 óbitos pela doença, e como no necrotério o suporte é para cinco, os outros corpos precisaram aguardar em leitos. “É um processo demorado a liberação desses corpos. Então, eles questionam como será com mais mortes, onde esses corpos vão ficar. Estão com medo de juntar uma carnificina”, afirmou o Arlindo César Ferreira dos Santos, presidente do Sinpen-MT.
Além disso, diz que o Sindicato foi questionado sobre o fornecimento de bombas de infusão, já que em uma demanda normal os profissionais precisam improvisar para atender. “Cada paciente em leito de UTI usa em média cinco bombas, eles vão fornecer para todos esses novos leitos?”. Já com 40 leitos UTIs Covid, a unidade, que passa a ser o segundo hospital exclusivo para casos covid-19 na Capital, vai ofertar mais 20 UTIs para a doença, além de outras 40 vagas de enfermaria. Desde o ano passado, São Benedito atua na retaguarda do hospital de referência para os infectados pelo coronavírus, que até então era apenas no antigo Pronto-Socorro.
Preocupação é com jornada excessiva
Além de toda a preocupação em relação ao atendimento que será prestado aos novos pacientes de covid-19, o Sinpen esclarece que o cenário atual é “preocupante” pela falta de planejamento no combate à pandemia e a carga excessiva de trabalho para os profissionais da saúde. Arlindo César lembra que já se vive a pandemia por um ano e o poder público teve tempo necessário para se organizar, “mas, de lá pra cá, a procura por hospitais e leitos de UTIs só estrangulou e o sistema de saúde vem cobrando força sobre-humana dos profissionais principalmente daqueles que atuam na linha de frente de combate ao vírus”. Esses profissionais, em especial da enfermagem, chegam a realizar carga horária de 36h e descansar apenas 12h e, mesmo assim, apesar de tanta dedicação e esforço, estão com salários baixos e defasados. O representante lembra que um técnico em enfermagem recebem em média R$ 1.285 e o enfermeiro ganha R$ 2.405. “Já protocolamos pedidos de reajuste salarial, de insalubridade, mas até agora, sem retorno”.
Tudo isso tem causado grande desgaste e abalo psicológico aos trabalhadores, o que tem resultado em cada vez menos profissionais aptos para servir nessa pandemia. A Baixada Cuiabana conta com aproximadamente 5 mil profissionais entre técnicos e enfermeiros. “Estamos trabalhando, dando o nosso melhor e temos sido reconhecidos por isso pela sociedade, mas precisamos rever também a remuneração, que é baixa diante de tanto trabalho, riscos e dedicação”. (DV)
Fonte: A Gazeta
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