Hospital corre risco de fechar em MT

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Por falta de dinheiro, é caótica a situação do Hospital Regional de Sorriso, principal referência da saúde pública para 15 municípios da região Médio-Norte do Estado. Tanto é que a direção da unidade fala em risco de fechamento em 30 dias se continuar assim. Cerca de 70 médicos, anestesistas e demais integrantes da equipe de saúde estão sem salários há 3 meses. Por isso, não estão trabalhando integralmente, fato que interrompeu em 100% internações e cirurgias eletivas.

 

Só são operados pacientes graves e mantidos internados os sem qualquer condição de alta. Na farmácia, remédios essenciais estão em falta, inclusive antibióticos, anestésicos e medicamentos usados na UTI neo-natal, onde ficam internados prematuros, em risco de morte. Único fornecedor de alimentação, um mercado local, já avisou que não tem mais como atender a unidade. A lavanderia suspendeu parcialmente o atendimento e a empresa que presta serviços de limpeza também. Telefones estão cortados, exceto para receber ligações.

 

Pressionada pela situação limite e as críticas constantes de usuários insatisfeitos, nesta sexta-feira (19), a enfermeira Lígia Souza Leite, diretora do Hospital, levou o caso, com detalhes, ao conhecimento da imprensa. “Fiz isso para tentar sensibilizar”, justifica, se referindo ao governo do Estado.

 

Segundo ela, a dívida com fornecedores de produtos e serviços chegou a R$ 8 milhões e 240 mil. “O Governo não repassou parte de dezembro, parte de janeiro e não repassou nada de fevereiro, março e abril e a média de viagens minhas a Cuiabá, para tratar deste assunto, tem sido de 2 a 3 vezes por mês, sempre voltando sem saída. O discurso da crise, sabemos, não é mentiroso. O Brasil está em crise, mas temos que ter um plano B de gestão da saúde, não podemos continuar assim”, reage a diretora.

 

Segundo ela, este cenário vem se arrastando desde setembro do ano passado. A unidade era gerida pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDHS), uma Organização Social de Saúde (OSS), mas, pelo histórico de atrasos nos repasses, venceu o contrato e não houve renovação. Durante 1 ano, de junho de 2015 a junho de 2016, o hospital sofreu intervenção do próprio Estado, mas, de acordo com a diretora, não faltava dinheiro. Depois disso, sob a gestão da Secretaria de Estado de Saúde (SES), “foi ficando difícil e agora muito preocupante”.

 

Quanto à redução da equipe de lavanderia e limpeza, ela questiona. “Eu tenho um hospital para conduzir, um hospital tem que ser limpo, está com 75% da capacidade ocupada, com roupa de cama, banho. São 10 leitos de UTI adulta e 10 neo-natal, centro cirúrgico atendendo emergências, meu medo é infecção hospitalar”, ressalta.

 

Quanto à alimentação, já foram cortadas refeições de servidores com enfermidades especiais. “Fornecíamos para eles, mas não podemos mais fazer isso, porque o paciente é prioridade e ainda terei que fazer mais ajustes, ou vai faltar comida”, justifica.

 

Em épocas de normalidade, o Hospital realiza 3 cirurgias emergenciais, principalmente de traumatizados, e cerca de 10 a 12 eletivas por dia. Atualmente, têm sido feitas somente as 3 urgentes.

 

Para fazer curativos, os insumos, como luvas e gases, são suficientes para um mês, mas antes de setembro do ano passado, havia estoque para 90 dias. “Aos nossos pacientes, quero ressaltar que não é má vontade nossa, realmente a situação é crítica e não descarto risco de fecharmos as portas”, lamenta a enfermeira Lígia. Para ela, a SES informou que não havia previsão de regularização.

 

O Hospital Regional de Sorriso está em um universo de 7 regionais, que cumprem importante papel social no interior. O de Sorriso, algumas especialidades são referência para 32 municípios, como atendimento a gestantes de alto risco, e recebe grávidas até do Sul do Pará. Os outros também vivenciam problemas, por atraso nos repasses. Em Cáceres, por exemplo, a unidade recebeu janeiro, fevereiro e março, mas tem pendências de dezembro e abril. “Sem dinheiro, como em Sorriso, não tem como gerenciar saúde”, adverte o diretor executivo Mário Rodrigo Kaoru.

 

Lá, o Regional também é importante, sendo único público da cidade. Um outro estabelecimento privado, atende também pelo SUS, para tentar suprir as necessidades locais.

 

Em Água Boa, o prefeito Mauro Rosa (PPS) preside a unidade regional. Para dar uma noção da importância do hospital na cidade assegura que 96% dos pacientes são atendidos por ele e só 4% encaminhados a Cuiabá. Não quis falar de valores em débito, mas diz que está tendo que buscar soluções “para não deixar os serviços pararem”, apesar do atendimento estar ocorrendo sem interrupções.

 

OUTRO LADO – O secretário de Estado de Saúde, Luiz Soares, é o quarto a assumir a pasta na administração do governador tucano Pedro Taques. Tomou posse dia 17 de março, deste ano, ou seja, há 2 meses. Ainda não veio a público tratar sobre os problemas dos Hospitais Regionais. Mas já adiantou, por meio da assessoria de imprensa, que, nos próximos dias, vai apresentar um balanço geral e um plano de “choque”.

 

Sobre o Hospital Regional de Sorriso, por meio de nota, a SES informou que até 8 de maio de 2017, a unidade recebeu R$ 9.747.820,86, entre repasses federal e estadual, sendo do Estado R$ 4.069.844,01 e da União R$ 2.535.894,52. Também foram pagos ao hospital R$ 3.142.082,33 mediante bloqueio judicial referente ao período de janeiro a fevereiro de 2017.A nota diz ainda que em relação às pendências, em 2017 de janeiro a março o valor a ser pago é de R$ 3.995.923,74 referentes a processos na SES. Deste total, alguns processos aguardam certidões de fornecedores e também as notas fiscais que comprovam a prestação dos serviços.

 

Diz que uma “dívida do exercício de 2016”, no valor de R$ 272.587,52, está sendo programada para ser quitada.

 

Sobre os valores devidos aos serviços de lavanderia, a SES diz que analisa os documentos para que os pagamentos sejam feitos. Quanto às despesas com alimentação, fiz ter feito um pagamento de R$ 7,5 mil no início deste mês e analisa os documentos do restante, referente a R$ 54 mil.

 

Fonte: FOLHAMAX

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